“Há tempos eu procurava o que
fazer com a minha dor e perguntava: “Onde colocá-la?”, “O que fazer para ela
parar de doer?”, “Como não senti-la?”. Foi quando eu entendi que o lugar da
minha dor é no amor. No amor infinito que eu sinto pelo Cauê e em tudo que ele,
em seu curto e intenso tempo de vida, foi capaz de me ensinar. “
E assim começa o texto da
contracapa do livro. O primeiro texto que escrevi apenas para o livro, pois
agora, o blog que eu escrevi durante toda a gestação e vida do Cauê, “Enquanto
espero, eu tenho guardado o meu amor”, é oficialmente um livro. E apesar de ter
sonhado de um jeito e a vida ter me direcionado a uma nova forma de sonhar, ele
agora é real. E isso só foi possível graças ao entendimento de uma das maiores
lições que a precoce vinda e partida do meu filho me proporcionou: o lugar da minha dor é no amor.
O plano era escrever no blog até o
Cauê completar um ano de idade e depois entregar a ele o livro num formato
lúdico, infantil quando ele aprendesse a ler. Mas não deu. E além de tudo que
eu perdi com a morte dele, mais essa quebra de sonho e expectativa me machucou
por meses. Foi aí que na turnê do Pearl Jam do ano passado, eu percebi dentro
de mim, pela primeira vez, a dor e o amor convivendo juntos de forma pacífica e
respeitosa. Essa percepção me encheu de esperança e coragem para resgatar o que
ainda me restava e a transformação do blog no livro, algo que eu tanto desejei
e sonhei, é a maior concretização disso.
Este é um livro de um exemplar só
e feito por amigos que se solidarizam com a nossa história de amor e cederam os
seus talentos para torná-lo real. Especialmente, Lu de Mari, mais uma vez e por
todo o sempre, obrigada, minha amiga. O livro não foi pensado para ser um
e-book, mas ele ficará disponível aqui no blog para quem quiser ler. É só
clicar na seta que está em diagonal no lado direito da tela (ao lado de IN) que ele ficará em tela cheia e facilitará a
leitura. Algumas páginas estão branco porque eram necessárias para a composição do livro impresso.
Neste momento em que escrevo, uma
sensação de liberdade toma conta do meu peito. Acho que assim como a minha
terapeuta me disse que um dia aconteceria, no meu tempo, eu sinto que a partir
de agora nenhuma homenagem em futuras turnês do Pearl Jam, nem livros ou
tatuagens precisarão mais existir para eu homenagear e eternizar o Cauê na minha
vida. Eu poderei senti-lo no vento, no mar, no sol e em tudo que me trouxer
alegria e paz. Ele é e sempre será o meu primeiro filho, o meu eterno amor, o
meu bebê lindo e de dentro de mim, ele jamais sairá. Hoje, um ano que ele foi
para a morada do Pai, eu sinto que é chegada a hora de parar as tentativas de fazer ele “ficar” um pouco mais. Eu sempre soube, desde que ele se foi,
de que ele não precisava de nada disso, mas eu sim. Era uma necessidade minha.
Por outro lado, eu também sei que
nunca mais serei 100% feliz. Mas serei o percentual que eu puder ser. A dor tem
a minha permissão para ficar, mas o sofrimento não mais. E neste um ano da
morte do Cauê, eu me liberto. Ele, eu libertei quando o vi em coma. Eu precisei
de alguns dias vendo ele naquele estado para matar toda esperança que ainda
havia dentro de mim. E após 5 dias, eu me rendi à
vontade de Deus e me tremendo e gaguejando, no dia 29 de abril, sozinha, eu abri
a incubadora, coloquei a mão no peito dele e disse que ele estava livre para
partir e parar de sofrer, pois a mamãe ficaria bem. No outro dia, ele se foi. Essa
última parte eu menti. Eu nunca ficarei plenamente bem, mas eu seguirei com fé,
esperança e amor. Por Deus, por ele, por PR e pelos dias melhores que eu sei
que virão.
Eu te amo, bebê lindo. E
eternamente guardarei o meu amor por você.